quarta-feira, 22 de abril de 2009

A HISTÓRIA DE DOM JUAN



Escrevo esta história com a tinta do meu próprio coração,
Faço estas poesias como quem escreve com as lágrimas...
Sou um apaixonado pela vida, tenho gostado desta existência,
Sou enamorado pelo amor e por tudo que é bonito em nosso viver...
Arranco do meu peito as frases como gotas de orvalho,
Como pingos da geada num frio intenso...

Tudo começou na minha cidade de Sevilha, na Espanha,
O lugar onde eu nasci e cresci...
Quando eu era infanto-juvenil, tinha meus doze anos de idade,
E ia para alguma festa, os quais todos os anos se faz,
Eu fazia muito sucesso com as garotas...
Nos dias em que havia aquelas festanças de fim de ano,
Lá estavam as meninas brigando por mim...

Deste modo eu fui crescendo mimado pelas meninas,
Muitas moças eu conheci que me fizeram ficar do jeito que sou...
Se existisse destino eu diria que fui projetado para tal vida,
Se houvesse a sina de cada um eu teria uma igual a essa...
Fui aprendendo a como me portar diante de qualquer situação,
E não me assustava nenhuma ocasião...

Como eu tinha uma bonita voz para cantar, eu vivia disso,
Minha profissão era entoar canções na noite...
Sempre era contratado para alguma casa noturna,
Ia constantemente a festas maravilhosas...
E sem me aperceber eu conhecia muitas mulheres,
Elas ficavam a me olhar de maneira admirada...
Assim eu me envolvia facilmente com muitas,
E estas se encantavam com meus atributos...

Estes são os dizeres, palavras de algumas moças:
“O beijo é a única música que faz esquecer as lágrimas,
Beijar é como o cantar do rouxinol...
E você é único e, portanto, inumerável,
Não há gente igual à sua pessoa...
Eu só queria amor, amor e mais nada...
Desejo o sentimento verdadeiro...
E dor de amor que não passa é porque o amor valeu,
Aflição cega que não vai embora jamais...
Eu não devia amarrar o navio a uma só âncora,
Nem a vida a uma única esperança...
A paixão é para mim o ato de ficar no ar,
Antes de mergulhar, como alguém que vai precipitar de um abismo...”

Assim, eu prosseguia minha vida,
Continuava tendo muitos “casos”...
E sempre que a moça dizia “eu te amo”,
O amor se desvanecia em mim,
E eu implorava para não dizer isso,
Nem nunca se expressar com tais palavras...
Mas elas não me obedeciam,
E subestimavam a veracidade dos meus alertas...
E desta forma eu estava a toda hora com uma mulher diferente,
Jamais estava com a mesma por muito tempo...
Talvez fosse culpa minha realmente,
Sentia-me mal comigo em todas às vezes...
Mas era inevitável isto deixar de acontecer,
Ocorria a mesma coisa em todas as ocasiões...

O amor? Pássaro que põe ovos de ferro!
Amar alguém? Ave dos produtos do aço...
É por isso que o amor não envelhece...
Morre menino ainda...
Se as penas com que o amor tão mal me trata,
Se a escrita que o sentir me arrebata,
Permitirem que eu tanto vivesse delas,
Que veja escuro o lume das estrelas
Em cuja vista o meu ser se acende e mata...

Diziam que eu era um ser sem sentimentos,
E que apenas brincava com os corações femininos...
E que um dia eu iría sofrer muito,
As agonias profundas no peito...
Nuvens cobririam as tempestades,
Como tufões violentos e arrasadores...
O vento traria um doce amor,
Que esmagaria o orgulho mais enraizado,
O tempo viria com um encanto,
Porém, distante da emoção mais remota...

Negue-me o teu carinho!
Deixe-me o teu olhar...
Mas viva assim sem respirar...
O mesmo ar que tem comigo a sonhar...
Descobrir toda a ternura...
No exalar molhado de uma flor...
Uma faca cravada na minha dor...
Que é tudo mentira... Amar é pouco
Pelo que diz meu coração...
Tudo ruim demais para suportar,
Pelo que há no âmago mais profundo...
Como o oceano, cheio de conflitos...
Como um rio que leva as impurezas da terra...
O tempo passa e não apaga,
É como o vendaval que veio dos mares antárticos,
Como um furacão arrasador para o íntimo de um ser...

Eu vim trazer-te esta chave, uma antiga de piano e bonita,
De ouro velho, mas bela como tua pessoa...
Ela é um símbolo de mim mesmo,
O sinal do meu próprio coração...
Enfim, é a chave do meu coração...
Com ela se abre a comporta dos meus sentires...
O que farás com tal presente?
Diga-me o que sucederá em tuas mãos tal coisa...
Fala-me que abrirás a porta dos sentimentos,
Que entrarás adentro de um amor perfeito...

Você é a única mulher que me faz ter vontade de viver,
Quero um amor infindável como o universo...
Repleto de estrelas coloridas,
Reluzentes corpos celestes...
O amor só possui uma palavra e, dizendo-a sempre,
Não a repete nunca...
E esta amizade é como a música: duas cordas vibrando,
Porém se ouve uma única nota...
Quando estou perto de você eu vôo nas nuvens do céu,
Sou um pássaro veloz por entre as montanhas...

Assim eu prosseguia minha vida,
Sem jamais encontrar a mulher certa,
Uma que fosse satisfatória para toda a existência...
Eu até que queria realmente...
Mas era difícil encontrar uma que me fizesse amarrar...
Eu tinha um coração duro como pedras fortes,
Meu sentir era feito de metais pesados...
E havia paqueras passageiras,
Moças que se extasiavam por poucos instantes...
Não havia amor verdadeiro,
Nem genuíno sentimento acalentador...

Como as ondas do mar, como o rio que passa,
Que leva e traz as coisas do solo produtivo...
O mar salgado que tem sua frieza,
Como o frio do Ártico, o pólo norte...
Como o planeta Plutão, que até deixou de ser planeta,
De tão longe e gelado que é do Sol incandescente...
Assim era meu coração sem vida,
Mimado por muitas vozes femininas...
Assim era o meu sentir mais remoto,
Envaidecido por muitas senhoritas...

Eu sonhava encontrar a mulher especial que me traria todo contentamento,
Eu tinha os devaneios de todo rapaz jovem anseia em seu viver...
Achar a pessoa que me completaria...
Mas eu era viciado em paquerar...
Não podia aparecer uma nova mulher bonita,
Que lá estava o meu olhar para ela...
Eu dizia mil coisas lindas do meu coração...
Como elas gostavam do que eu dizia,
Falavam que nunca tinha escutado tais palavras algum dia...
Eu era um boêmio, um conquistador voraz...
Dificilmente era fracassado, bastavam poucas palavras,
Eram poucas as expressões minhas e lá estava com alguém diferente...

Só que tudo tem um preço,
A ganância tem seu salário...
A fama de conquistador sobe aos poucos...
Logo é como a barriga da mulher grávida...
Cresce sem parar, até dar à luz um lindo bebê...
Ter o conceito de conquistar é tão ruim
Como ter um nome sujo no mercado...
Quem conhece já não mais cai nas mesmas armadilhas,
Nem o conquistador trilha nos mesmos territórios...

Por que sou infeliz? Qual a razão de tamanha tristeza?
Falta a sinceridade dentro de mim... A honestidade
De ser um homem só, íntegro a si mesmo...
Um vazio cobre o âmago de meu peito,
Falta uma esperança verdadeira...
Morrerei sozinho, sem ninguém para me dar aconchego,
Não terei família jamais para ter o amor tão belo...
Para expor amor a filhos amados e apreciados...
Sou, sim, infeliz dentro de mim, embora muitos tenham inveja,
E eu bem sei o quanto há ciúmes nesta vivência...

A verdade é que ninguém pode contar vantagens de muitas conquistas,
E não há privilégio algum em ter muitas mulheres...
Tudo é passageiro como um mascar de chicletes...
Como um pedaço de bolo a comer...
Ter coragem de entrar numa relação séria,
Que envolva toda uma sociedade,
Aprovação de pessoas de toda à parte...
Ninguém é de ferro...Precisa ser mole de vez em quando...
Aceitar as diretrizes da vida...
A existência não é feita de aventuras...
Além de tantas brigas causadas pelas rixas,
Seres ferozes que são beligerantes por sua caça...

Amizade dada é amor,
E muita simpatia por alguém é sentimento intenso...
Dizem que qualquer maneira de amor vale a pena,
E que não é fútil amar alguém...
Preciso disto para viver...
Não sou alguém tão diferente assim...
Quem anda junto é mais difícil se perder,
Mais fácil é cair num laço sozinho...
Falam que o grande amor se contenta com pouca coisa,
E que não é necessário ter tanto para um sentir mais nobre...
Quero deixar de ser o conquistador,
Desejo ser conquistado!
Só o poder do amor tem força para anular o amor do poder,
Somente a paixão mais ferrenha é capaz de cegar o homem de poder...
E tanto se perde com amor demais como com amor de menos,
Ter tanto amor é péssimo, arrasador,
E também ter pouco amor é uma espada amarga, sufocante...


Não tenho mais vôo para tudo que amo,
Não possuo mais horizontes...
Sou um deserto dentro de mim,
Meu coração é um ermo desolado...
Não há gramas, nem plantas verdejantes...
Não existem águas profundas, nem oceanos extensos...
Lutar contra o coração é difícil, pois se paga com a vida...
Desafiar o sentimento é duro demais para se viver...
O valor de uma vida se mede pelo grau de paixão que a habita,
E estar enamorado por algo é o que se tem por medida de alguém...

Visto e ouvido tornam luzes e sons mais confusas vibrações no espaço...
O mesmo com o coração que ama: sem ele nada mais sou que um punhado de terra espalhada no universo...
Nada mais que montículos de pó, sou sem o amor verdadeiro...
O amor é a luz que não deixa escurecer a vida...
É a fonte de energia que não apaga as esperanças...
A felicidade é a tênue fronteira entre o pouco e o demasiado...
Ser feliz vale a pena para quem tem equilíbrio...

Por fim, para nós há mais coisas que procurar neste pequeno coração faminto do que em todas as estrelas do céu...
Existem mais transtornos a achar neste sentimento sedento do que em todo o profundo do oceano...
E falam que a alegria é o termômetro do amor,
Indica o quanto estamos encantados...
Um dia serei feliz, encontrarei a mulher dos meus sonhos...
Acharei aquela que tem amor devastador dentro do peito...
Mas, por enquanto, sou Dom Juan, o conquistador...

Wanderson, 2006.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

NO LIMITE DO SILÊNCIO........



SONS DO SILÊNCIO


Silêncio absoluto impossível
Tente ouvir os sons do silêncio
Se te isolares numa floresta
Ouviras o cantar dos pássaros
Ainda no silêncio da noite
Terás o canto das aves notívagas
O cricrilar dos grilos
Coaxar dos sapos ...
No alto de uma montanha
Terás o som melodioso do vento
Como notas emitidas por uma flauta
Numa praia o marulhar das ondas
Ao lado de uma fonte a água que cai ...
à nossa lembrança traz suaves
Acordes de piano
Se em em meditação profunda
Ouvirás o som da tua respiração
As batidas ...do teu coração !
Ilha Grande...Que saudades...


























NO LIMITE DO TEMPO

Nem sempre há tempo para o limite
Mas sempre há limite no tempo
Tempo foi de despertar
Caminhar por entre as arestas
Entre as frestas da vida inerte
Tempo foi de redescobrir
Ou encobrir paixões
Ressucitadas do mais ítimo âmago
Nunca confessas, emergentes

Emergência nata de um afeto qualquer
Mesmo que distante no mais doce céu
Almas benditas que levitam por entre nós
à espera do retorno astral
Interlúdio imaginado da esfera terrestre
Ambiente natural de todos os mortais
Fina é a linha do tempo
Não há como voltar páginas...

Inscrever palavras no forte metal
Tatear sentimentos para não ficarmos sós
É preciso
Vozes nos cantos inspiram a mente
ou cantam para embalar o sonho
Sonho terreno ou tridimensional
Não importa a fonte, desde que pura
Não importa a face, desde que sua
Vida latente, aparente forma
Indevida ausência do derivado amor
Descer das alturas e reviver
Momentos etéreos e sons imperceptíveis
Momentos duros ou agrestes
Momentos doces ou irreverentes
Não importe a hora, se ela for minha
Não importe o dia, se a noite vem
Iluminar a lua com aura violeta
Imaginar desenhos e escrever com as estrelas
Poemas divinos e eternos
Nunca lidos, sempre sentidos

Dedilhar as letras e formar imagens
Ouvir as notas nem sempre afinadas
Desesperar pela vida, antes que passe
Morrer num suspiro, antes de sobreviver
Conviver - somente
Ardente chama do meu passado
Encoberto por outras paragens
Desconhecidas em sua maioria
Vagamente conscientes na memória...
Luz e Paz para todos que lerem...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

CATHAI

MOGAO
Para os chineses antigos, os seres humanos sempre foram iguais e diferentes ao mesmo tempo. Sua criação é regida por um mesmo princípio universal (Li), mas sua manifestação no mundo material se dá pela imutável regra da variabilidade e da transformação contínua - já tão conhecida no mais antigo de seus clássicos, o Yijing (o Tratado das Mutações). Zhuxi dizia que “nunca se criam duas coisas iguais”, mas que “a menos que haja similaridades e diferenças, expansões e contrações, começos e fins, para revelar suas características a individualidade não pode "sobressair", e a coisa não é realmente uma coisa”.
O ser humano é, pois, um ser dado aos mesmos sentimentos, inclinado aos mesmos princípios. Pensa igual, mas reage diferente de acordo com o contexto, a cultura ou a experiência. Seu corpo é único, e no entanto, situa-se nesta categoria que torna-o o que ele é, esta definição tão clara que é ser humano. Cada um está condicionado por uma propensão (shi) a possuir uma série de virtudes e defeitos que lhe conduzirão a vida, e saber utilizar-se deles é o caminho para a sabedoria. A mente, no entanto, não escapa ao princípio ordenador (Li), e assim segue as trilhas que se abrem para obter o conhecimento que lhe faz transcender. É a busca do Dao, o Caminho, a Via.
Disse o pensador Lu Xiang; "O universo é idêntico à minha mente, e a minha mente é idêntica ao universo”; por isso, "qualquer acontecimento dentro do universo é assunto meu, e qualquer assunto meu é um acontecimento no universo" já que “a minha mente, a mente do meu amigo, a mente dos sábios de gerações passadas e a mente dos sábios de gerações futuras são todas uma só”. Pensamos iguais, portanto? Ou pensamos diferente sobre algo que nos é comum, o sentimento? E esta forma de pensar, que é diferente para cada um, não nos torna acidentalmente iguais?
Esta seria uma armadilha conceitual perigosa, se não fosse uma idéia tão intrigante, que responde bem ao problema de sermos iguais (ou não). Mas posso prová-la? Ou ainda, posso sentir de alguma forma que isso é real?
Então, olhem para a imagem no início deste texto. Ela é uma pintura proveniente da gruta 431 de Dunhuang, norte da China, e foi feita provavelmente entre 618 –712 d.C. (segundo período da dinastia Tang). O que vocês verão é um cavalheiro abaixado, abraçando os joelhos, com a cabeça posta entre as pernas. Ao seu lado, um cavalo calmo vislumbra-o, como se dele compadecesse. De que sofre este homem? Que tormento lhe abate? Não há tempestade, os animais estão calmos (há outros que cercam a figura, mas este trecho da pintura é que me interessa). Ele está só, diante do fundo verde. Para ele, nada existe ao seu redor. Creio que até o cavalo o sabe, e fita-o com o doce olhar de compaixão e amor que os animais lançam aos seus donos queridos. Mas mesmo isso não posso afirmar, pois não sou um cavalo; e duvido muito que o pintor o fosse. Mas ele sabe dizer a nós, através de um cavalo, aquilo que sabemos ser o que ele sente; a solidão.
Esta solidão e a melancolia que transparece no cavaleiro solitário (será ele o próprio pintor?), lança-o a introspecção da forma menos contida que existe. Assume sua dor, e apenas busca no meio das pernas esquecer o mundo- ou, enfrentar o fato de que o mundo o esqueceu. Quanta coragem ele precisa para fazer isso? Disse Mêncio; “O grande homem é o que não perde o seu coração de criança”. Sim, chorar como uma criança. Eis o que o pintor não faz na nossa frente, mas diz de uma outra forma que o faz. Ainda que não chore, pinta a dor, de maneira que possamos entendê-la.
Mêncio parecia estar certo sobre algo; “O modo como o homem perde a sua alma assemelha-se ao modo como se abatem árvores à machadadas. Devastada dia a dia, pode ela conservar a sua excelência? Revivendo dia e noite, no ar sereno da manhã, entre o dia e a noite, a alma sente em certo grau os desejos e aversões peculiares da humanidade; mas essas sensações não são fortes; desvanecem-se, porém, subjugadas pelas ações do homem durante o dia. Isto repete-se continuamente; a influência benéfica da noite não basta para preservar a bondade; e, quando se manifesta essa tensão, a natureza humana torna-se pouco diferente da dos irracionais. À vista disto, pode-se pensar que nunca existiram as qualidades que eu apregôo [a bondade inata da natureza humana]. Mas representará essa condição os sentimentos próprios da humanidade?”. Sim, quem pode resistir a melancolia, a solidão? E, no entanto, não é justamente por senti-las (assim como prazer) que o ser humano é humano? Não é esta a sua humanidade, sua universalidade? Sentir, de um jeito que apenas nós podemos sentir; em maior ou menor grau, intensidade ou importância, mas ninguém a escapa. Nem mesmo o mais frio dos homens- que por sentir renega o sentimento, e tenta trancafiá-lo numa existência “racional” (pois até onde conter o natural é absolutamente racional?).
Há um limite, sim. O excesso do sentir também nos destrói. Nos perde. Este é o clímax do momento. Foi aqui, para não se perder, que o artista imprime na parede sua dor. Transfere para a pedra que lhe serve de painel aquilo que ela - pedra, não sente - mas guarda, que é a energia de sua melancolia.
Segue assim o artista uma máxima lançada por Confúcio que lhe devia ser tão familiar quanto o era por letrados, budistas e daoístas; "Firmeza, resolução, simplicidade, silêncio - isso nos aproxima da humanidade". Ele transmite em silêncio suas idéias, e usa do pincel não para escrever, mas para representar. Manifesta o princípio da dor que é comum aos seres humanos, e imprime-o na parede. Livrou-se dela? Talvez. Mas olhando o triste cavalheiro, lembramos como ela é.
Eis porém a virada que todo o pensar chinês tanto aprecia, em sua eterna razão dialética que nos clama olhar sempre por outra perspectiva...ver o cavalheiro nos faz saber, conseqüentemente, que não estamos sós, que somos iguais, e sentimos o mesmo. Haveria de ser uma razão para acreditarmos na “universalidade da tristeza”, se isso não significasse que aceitar esta envolve admitir também a “universalidade da alegria”, sua oposição complementar natural? Então, há que existir o que há de bom, e isso é universal. Cabe-nos, pois, procurá-lo.
O sempre otimista Mêncio diz-nos: "Considerando positivamente este caso, veremos que carecer do senso da aflição não é humano, como não é humano ser destituído do senso da vergonha e do desdém, do senso da modéstia e da condescendência, do senso da aprovação e da reprovação. O sentimento de angústia é o princípio de clemência; o senso da vergonha é o princípio de justiça; o senso da modéstia, e da condescendência é o princípio da correção; e o senso de aprovação e reprovação é o princípio de discernimento".
Ser sábio, portanto, consiste em sofrer de vez em quando justamente para buscar o que é melhor para todos...ou apenas para si mesmo. Não importa. Fundamental mesmo é a busca. Daí porque nosso cavalheiro (pintor) - ainda que dilacerado - situa-se no ponto exato de onde ele pode mudar tudo a sua volta. Pode encher de cor o vazio do verde a sua volta. Amar pessoas como talvez deseje ser amado, tal como seu cavalo (alter-ego) o ama e o vela.
As Conversações (Lunyu) de Confúcio não nos deixam saber se foi o mestre ou um de seus melhores alunos, Zixia, que afirmou; “Escutei isto: vida e morte são decretadas pelo destino, riquezas e honrarias são conferidas pelo Céu. Desde que um cavalheiro se comporte com reverência e diligência, tratando as pessoas com deferência e cortesia, todos os habitantes dos Quatro Mares são seus irmãos. Como poderia um cavalheiro queixar-se de não ter irmãos?". Creio que não é necessário saber quem disse isso. Apenas busquemos sentir nesta afirmação o elemento básico deste pensar confucionista sobre a melancolia; somos, sim, um só; e no entanto, como podemos achar que estamos sozinhos?
Se o que nos torna iguais - seres humanos - é a melancolia, o que nos traz a redenção é a sabedoria da felicidade e a coragem de querê-la. Este é o caminho de Confúcio, ao que ele aconselhava; “Retende-a firmemente e ela ficará convosco; se a soltardes, é certo que a perdereis”.

Sugestões de Leitura;
As citações que aqui utilizo estão no Lunyu (Conversações) de Confúcio (séc. vi a.C.) e no Livro de Mêncio (séc. iv a.C.); Zhuxi e Lu Xiang são citados no artigo de Chan, História da Filosofia Chinesa, 1979. Sobre a Arte e o Pensar chinês, ver meus outros artigos O Mundo nos Veios de um Jade - a Arte Tradicional Chinesa e
O Dao está no Torno do Oleiro ). O resto (creio) nós podemos compreender por sermos simplesmente humanos (ou não?).

quinta-feira, 2 de abril de 2009

BASTET





Na mitologia Egípcia Bastet, Bast, Ubasti, Ba-en-Aset ou Ailuros (palavra grega para "gato") é uma divindade solar e deusa da fertilidade, além de protetora das mulheres grávidas. Também tinha o poder sobre os eclipses solares.
A deusa está presente no panteão desde a época da II dinastia. Era representada como uma mulher com cabeça de gato, que tinha na mão o
sistro, instrumento musical sagrado. Por vezes, tinha na orelha um grande brinco, bem como um colar e um cesto onde colocava as crias. Podia também ser representada como um simples gato.
Por vezes é confundida como
Sekhmet, adquirindo neste caso o aspecto feroz de leoa. Certa vez, ordenou a Sekhmet que castigasse a humanidade por causa de sua desobediência. A deusa, que é representada com cabeça de leoa, executou a tarefa com tamanha fúria que o deus Rá precisou embebedá-la com cerveja para que ela não acabasse exterminando toda a raça humana. O que acabou originando a deusa Bastet.
Era a esposa de
Ptah, com quem foi mãe de Nefertum e Mihos. A esta deusa é tradicionalmente consagrado o dia 15 de abril.
O seu centro de culto estava na cidade de
Bubastis, na região oriental do Delta do Nilo. Nos seus templos foram criados gatos que eram considerados como encarnação da deusa e que eram por essa razão tratados da melhor maneira possível. Quando estes animais morriam eram mumificados, sendo enterrados em locais reservados para eles. Conforme Wikipédia.

Embora a minha deusa egípcia de acordo com a data de nascimento seja outra (descobri depois), sempre senti muita ligação com BASTET, pelo que ela é, foi e fêz, pela força que me transmite. Sempre adorei gatos, sempre me dei muito bem com eles e meu filho me chamava de GATINA...Nos meus momentos de apuros, recorro à ela, me transformando num tornado, num tsunami, mesmo sabendo que existem outros que posso pedir ajuda, deixo todo mundo doido, de cabelo em pé.... Olhando uma gata, se pensa numa coisinha fofa, macia, dengosa, sensual, me acham delicada, meiga...Mal sabem a fera que está por trás dessa coisinha...Se cutucada, vira uma LEOA de garras afiadas, deixando todo mundo maluco...Uma Bastet...Cuidado comigo, Humanidade...

Nasmastê...